O meu
amor por ti é. Não é mais nem é menos. É. Não o compares com o amor que amei
antes ou que irei amar no futuro, porque esses são amores que já foram ou promessas
de amor por vir. O meu amor por ti é agora. Existe e está aqui comigo e eu não o
meço, não lhe tomo o peso, não o comparo. Sinto-o e basta-me.
O meu
amor por ti não é mais nem menos do que o teu amor por mim. Como comparar? Com
que escala se compara o que é? Podemos
travesti-lo de roupagens mundanas, dar-lhe contornos reconhecíveis, dar-lhe
volume, peso, só para fazermos um exercício de meninos que se divertem a mexer
em formas e a aprender medidas. O meu
amor por ti é de que tamanho? De que tamanho é o teu amor por mim? Como os
comparamos? Criamos um referencial, indicadores de medida, critérios.
Avaliamos.
Podemos cansar o nosso amor a medi-lo – este é outro amor, um
terceiro, não é o meu amor por ti nem o teu por mim, é um novo, por criar, o
nosso. Ou podemos medi-lo por referência aos resultados esperados: o que
queremos que o meu amor por ti consiga?
Nunca menos do que salvar o mundo. Nunca menos do que a redenção total. Nunca
menos do que a insustentável leveza. Nunca menos do que a ausência de peso e de
medida, de regras e de convenções, nunca menos o que nunca vivemos e não
sabemos o que é e por isso não sabemos se encontrámos ou não, se o que estamos
a viver é o amor que queremos ou se é aquele que é.
Desisto
de medir o meu amor por ti. Queria dizer-te o que ele é. O poder que tem.
Queria mostrar-te como é, comparado com outros. Mas nada disso é verdade,
porque o meu amor por ti não é construção. Não tem tempo, não foi antes e não é
depois. E não pode nada a não ser ser. Volto ao início e talvez tente de novo,
num dia de sol e de vento, mostrar-te o meu amor por ti. Se o vires, talvez o
reconheças, mesmo sem lhe saberes as formas e as medidas, mesmo sem o poderes
comparar com nada que tenhas visto antes. Quem sabe tu olhas para ele e o vês
como ele é. Ou se nem o reconheces no horizonte, tão estranho se encontra sem semelhança
com que o possas identificar. Mesmo sem lhe dares forma e medida, saberás que
ele é?
Eu sei
que ele é, porque mesmo quando lhe viro as costas e finjo que não existe,
continua lá. Tem a qualidade do que existe e mais nada.
RD, 31.10.2012