Sabes-me a sal. Na tua pele fica o salgado de todos os mares em que nadaste, tu e água, numa dança antiga, feita pelos deuses para nos deixar sair por momentos da nossa obrigação de andar. Tu nadas e a água nada contigo, acaricia-te a pele, deixa que entres nela como se sempre te tivesse esperado. Na água, transformas-te e já não distingo onde um e outro acaba e começa.
Sabes-me a sal. O sol seca-te, o sal faz uma película branca que percorro com a ponta dos dedos. Os grãos de areia quente ficam agarrados à minha pele e são meus. O que há instantes era teu entra-me agora na pele. O calor do sol na tua pele e a areia morna transformam em névoa tudo o que nos rodeia e somos só nós os dois, pele, areia, sal.
Sabes-me a sal. Mesmo quando já nos afastámos do oceano e a água doce, ciumenta, tentou tirar-to da pele. O algodão da toalha arranha-te sem piedade, quer tirar-te aquele último grão de areia que se prendeu ali na tua pele. Mas ele resiste e fica lá, aguarda pelos meus dedos, para lhes dar uma última memória do calor.
Sabes-me a sal. Muito tempo depois de termos visto o mar é a sal que me sabes. Muito tempo antes de te ver, é o sal que antecipo. Não um sal de lágrimas, porque essas se perdem na imensidão da água. Não um sal artificial, desinfetado, pronto a consumir. Não, um sal em bruto, puro, inteiro. Um sal saído das pedras e embalado pela água. Um sal que só se mistura na tua pele e em todo o resto é insolúvel. Sabes-me a sal.
RD, 07.03.2012
A minha praia acordou logo nas primeiras linhas... e agora tenho, à flor da pele, cores, sons e sabores de muitos verões. Castelos de areia. Amores de perdição. Paixões passageiras. Memórias e vidas assumidas.
ResponderEliminarObrigada, Regina.
Maria Manuel